Portal da Supercincronicidade

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AS LEIS DA SUPERSINCRONICIDADE

Ver o que está bem diante do seu nariz exige luta constante.

George Orwell (1946)

Eu hesitei muito em produzir este portal, pois sei que o novo sempre cria reações contrárias e esbarra em resistências de toda sorte, tanto mais quando vai contra certas convicções bastante arraigadas.

Ao decidir por publicar minhas ideias e achados, estou consciente das críticas a que estou me expondo, pois sei que certamente muitos acusarão este trabalho de pouco científico, visionário, etc. Na verdade, nem mesmo eu estou bem certo de que minha abordagem é científica o tempo todo, mas não importa: há muito senti que eu tinha descoberto algo grande, algo realmente importante, algo que estivera sempre diante de nossos olhos, mas que nós nunca tivemos a largueza de visão de perceber.

De fato, este não é um portal de linguística, nem de história, nem de geografia, nem de antropologia, mas o estudo que aqui empreendo perpassa todos esses domínios e, ao mesmo tempo, transcende as fronteiras das atuais ciências humanas, amalgamando-as no estudo de um objeto ao mesmo tempo particular e amplo: a Europa Ocidental e as Américas, seus povos, suas línguas, sua civilização, que hoje é a civilização do mundo, eis por que tal objeto merece tanta atenção.

Mas meu estudo em alguns momentos estende-se até o domínio das ciências naturais, da geografia física e da geologia, por exemplo. O que procuro fazer aqui pode ser chamado de uma “ciência holística”, se cabe o termo.

Na maioria dos textos científicos, parte-se de uma série de evidências concretas para chegar a uma hipótese. É o chamado método indutivo. Aqui, optei por fazer exatamente o inverso: formular de saída uma hipótese, para a seguir apresentar as provas que devem sustentá-la. É óbvio que o percurso de pesquisa que realizei não foi esse, mas é esse o percurso que decidi fazer o leitor seguir, e a adoção dessa postura se encontra, creio, plenamente justificada. Em primeiro lugar, as evidências são muito mais numerosas do que as conclusões a que conduzem, o que deixaria meu leitor terrivelmente impaciente. Em segundo lugar, há momentos em que é necessário lançar mão das hipóteses de base para explicar certos fenômenos particulares. Assim, como num romance em que o escritor opta por iniciar sua narrativa pelo final para depois, em flashback, mostrar como se chegou até ali, a melhor solução para mim foi mesmo apresentar as hipóteses a priori. Por último, entenda-se que a escolha desse percurso é muito mais uma questão de idiossincrasia pessoal do autor do que de método.

-*-*-

Quando abandonei o curso de física e decidi cursar linguística na Universidade de São Paulo, já tinha em mente me dedicar ao estudo de uma questão que vinha ocupando a minha atenção e aguçando a minha curiosidade desde a adolescência, quando comecei a estudar línguas por conta própria: a impressionante similaridade, uma quase especularidade, entre as línguas e os povos do norte e do sul da Europa (e também do norte e do sul da América). Chamou minha atenção num primeiro momento a semelhança de vocabulário e ortografia entre o francês e o inglês (fato que, vim a saber mais tarde, se deve à forte influência francesa que as Ilhas Britânicas sofreram por mais de trezentos anos, fruto da invasão normanda à Inglaterra em 1066). Entretanto, eu notava uma série de outras analogias na fonética, na morfologia e na sintaxe dessas duas línguas que não se explicavam pela simples influência política ou cultural de uma sobre a outra.

A seguir, notei que essas analogias não se restringiam somente às duas línguas, mas comecei a perceber similaridades estruturais (nem sempre propriamente semelhanças) entre o italiano e o alemão e, posteriormente, entre as línguas ibéricas e as escandinavas, para finalmente perceber relações entre o romeno e o islandês. Mais ainda, fui aos poucos notando que semelhanças, coincidências, espelhamentos ou qualquer outro nome que se dê a esse fenômeno ocorriam também entre esses pares de países no tocante à história e à geografia.

Porém, quando afirmo que há analogias entre a língua francesa e a inglesa, ou entre o italiano e o alemão, é preciso esclarecer o que exatamente isso quer dizer. No caso do francês e do inglês, é claro que há muito mais do que simples analogias, há verdadeiras semelhanças, especialmente no léxico, o que se explica pelo empréstimo direto de vocábulos franceses pelo inglês: point, money, order, direction, service, liberty nada mais são do que point, monnaie, ordre, direction, service, liberté, etc.

No entanto, mesmo antes da invasão normanda, a língua inglesa já apresentava certas características análogas às da língua francesa, especialmente no plano fonético. A partir da chegada dos invasores franceses, o inglês ficou ainda mais parecido!

Já entre o italiano e o alemão, ou entre o espanhol e o sueco, quase não se pode falar de semelhanças, mas sim de analogias. De fato, um texto em italiano e sua tradução para o alemão são bastante diferentes, seja na grafia, no vocabulário ou na gramática. O que chama a atenção nessas línguas não são as (poucas) semelhanças, mas as diferenças sistemáticas.

Por exemplo, a ortografia do italiano é diferente da do alemão, mas o processo tipicamente italiano de eliminar o h, mantendo-o apenas nos dígrafos ch e gh, tem sua contrapartida no processo alemão de substituir c por k ou z, exceto nos dígrafos ch, sch e ck. A tendência italiana e alemã de substituir o ti latino por z enquanto o francês e o inglês o substituem por c é outro exemplo: lat. essentia → fr., ing. essence; it. essenza, al. Essenz. (Todas as peculiaridades fonéticas, gráficas, vocabulares e sintáticas de todas essas línguas serão tratadas em artigos específicos; o leitor pode ter certeza de que esses poucos exemplos são apenas a pontinha do iceberg.)

Portanto, dizer que dois fatos são análogos (ou simétricos, ou sincrônicos) não significa dizer que são semelhantes, mas sim que existe uma relação entre eles, como uma função matemática que a cada valor da variável x associa um valor correspondente da variável y, não necessariamente igual a x, mas que se obtém a partir de x pela aplicação de uma regra determinada, de uma fórmula. Por essa razão, podemos observar simetrias entre fatos aparentemente sem nenhuma conexão entre si, e é aí que reside a grande sutileza da pesquisa nesse campo: as diferenças sistemáticas vão nos interessar muito mais do que propriamente as semelhanças, embora estas também sejam relevantes. O fato é que as semelhanças são evidentes, e sua explicação em geral é óbvia, ao passo que as diferenças sistemáticas só podem ser detectadas num número razoavelmente grande de casos.

Recorrendo ao exemplo da matemática, a conclusão de que 1 é igual a 1 é trivial, mas se tivermos o par (1, 2), não podemos saber de antemão qual é a relação que, partindo de 1, conduz a 2, isto é, qual é a função matemática que, dado x = 1, produza y = 2 (em termos mais simples, por qual caminho, partindo de 1, chegamos a 2). Afinal, tanto y = 2x quanto y = x + 1 ou  y = 3x – 1 são satisfeitas pelo par (1, 2). Logo, somente testando outros pares de números é que poderemos decidir de qual equação se trata.

Igualmente, as simetrias só podem ser percebidas na medida em que as diferenças entre os elementos comparados sejam sistemáticas, isto é, na medida em que se possa estabelecer uma relação de proporcionalidade do tipo “A está para B assim como C está para D”. Embora os elementos A e B sejam diferentes entre si, a natureza dessa diferença é a mesma verificada entre C e D. A repetição sistemática desse tipo de diferença é o que nos dá a segurança de afirmar que existe uma relação de analogia entre a língua a que pertencem os elementos A e C e a língua a que pertencem os elementos B e D. (Estou falando em línguas, mas o mesmo raciocínio vale para datas, eventos históricos, fenômenos topográficos, demográficos, culturais, etc.)

Quanto à natureza dessas simetrias, na maior parte das vezes as causas são desconhecidas em termos da ciência tradicional. O conjunto dos fatos analisados parece indicar, contudo, que a história da Europa Ocidental, incluindo aí a história geológica do continente — muito anterior à presença humana na região — não pode ser fruto do acaso cego, mas tampouco parece resultar de leis determinísticas conhecidas. Se fosse esse o caso, as mesmas analogias seriam encontradas por toda parte; no entanto, a Europa Ocidental (e posteriormente suas colônias na América) é o único testemunho em nosso planeta da ocorrência desse fenômeno. Deve ser, portanto, o resultado da ação de algum tipo de princípio cuja natureza desconhecemos, pertencente talvez a alguma esfera mais sutil (quântica, complexa, holística) da realidade, que a ciência certamente ruma de algum modo para explicar. (Cabe aqui uma advertência: embora respeite visões místicas e espiritualistas, tenho uma postura absolutamente cética e racionalista; o fato de não encontrar no mundo imanente respostas às minhas indagações não me autoriza — ou pelo menos não me atrai — a buscá-las num plano transcendente.)

Como num espelho, a imagem real e a refletida são iguais, mas ao mesmo tempo invertidas. Comparando as duas imagens — a do objeto real e a de seu reflexo no espelho —, percebemos uma total simetria, o que significa igualdade de tamanho, forma, cor e textura, mas inversão de posição: o que no objeto está do lado esquerdo no reflexo está do lado direito, e vice-versa. Algo extremamente semelhante ocorre quando confrontamos o conjunto dos países latinos da Europa (convencionalmente chamados de România) e o dos países germânicos (convencionalmente chamados de Germânia): mesma extensão leste-oeste, mesma posição relativa entre países análogos, etc. Ao mesmo tempo, a Germânia parece um reflexo invertido da România — ou, antes, uma imagem em negativo. Antes de explicarmos melhor essa metáfora, vamos tomar emprestado da biologia os conceitos de analogia (semelhança de forma) e homologia (semelhança de substância). Dados um copo e um jarro de vidro e um copo e um jarro de cerâmica, posso dizer que os dois copos são análogos, assim como os dois jarros, já que têm a mesma forma (e também a mesma função). Já o copo e o jarro de vidro, assim como o copo e o jarro de cerâmica, são homólogos, pois, embora diferentes entre si na forma e função, são iguais na substância (e portanto na origem). 

Num esquema do tipo

A b

a B

A e a são análogos entre si (representam a mesma letra), assim como B e b. Mas o homólogo de A é B (pois ambas são maiúsculas), e o homólogo de a é b (minúsculas). Como num negativo fotográfico, as formas são análogas às do positivo, mas as cores estão invertidas. Por isso, países, povos ou idiomas análogos têm similaridade de forma entre si, mas diferença de substância. Já países, povos ou idiomas homólogos têm similaridade de substância, mas diferença de forma.

Com base nesse princípio, há dois tipos de simetrias, ou espelhamentos: por analogia e por homologia. Ao primeiro tipo, de longe o mais frequente e por vezes o único a ocorrer, chamo de simetria primária ou vertical; ao segundo, chamo de simetria secundária ou diagonal. Por uma questão de sinonímia (e para evitar a monotonia do texto), posso às vezes empregar os termos simetria direta ou cruzada em lugar, respectivamente, de vertical e diagonal. (Em caso de dúvida, consulte o verbete Simetria no GLOSSÁRIO deste portal.)

Na imensa maioria dos casos há simetria vertical, podendo haver também a diagonal. Mas não se pode subestimar a importância desta: se só existissem simetrias verticais, não teríamos especularidade e sim identidade (por exemplo, uma foto positiva e sua cópia). Seria como se o francês e o inglês fossem a mesma língua. É o jogo entre as simetrias vertical e diagonal que faz duas línguas ou países serem especulares (como a França e a Inglaterra) sem serem idênticos (como a França em relação a si própria) ou totalmente desconexos (como a França e o Japão, por exemplo).

 Entre o fr. assistance e o ing. assistance há simetria vertical, assim como entre o it. assistenza e o al. Assistenz (caso a). Entre o fr. brise e o al. Brise há simetria secundária, assim como entre o ing. breeze e o it. brezza (caso b). Entre as formas fr. fièvre, ing. fever, it. febbre e al. Fieber há os dois tipos (caso c). (Outro exemplo desse tipo seria fr. ligue, ing. league, it. lega, al. Liga.) A afirmação de que o francês é o análogo do inglês e de que o italiano é o análogo do alemão se deve ao fato de que as relações a e c são muito mais frequentes do que b.

A maior ou menor especularidade entre duas línguas pode ser deduzida a partir de uma espécie de regra de três. Se fizermos, por exemplo, uma comparação entre os aspectos fonéticos, léxicos e gramaticais do francês e do italiano, chegaremos a um conjunto de relações abstratas do tipo “francês A ⇒ italiano B”. Ora, reconhecendo que o inglês tem características especulares em relação ao francês (vamos chamá-las de A’) e aplicando as mesmas relações abstratas que levam do francês ao italiano para deduzir como seria a quarta língua desse quadrado, teríamos um raciocínio do seguinte tipo: A : B :: A’ : x; portanto, x = B’ (lê-se A está para B assim como A’ está para x; portanto x é igual a B’). Se, ao aplicarmos tal regra de proporcionalidade, chegarmos a uma língua muito próxima do alemão, então é porque o alemão é de fato a língua-espelho do italiano. Logo, assim como há uma analogia entre as relações A/B e A’/B’, também há entre A/A’ e B/B’, o que fecha o circuito.

Francês

Italiano

 

Inglês

Alemão

A simetria entre as duas famílias de povos é tão grande que um modo de testá-la seria inventar uma terceira família de países cuja história, disposição geográfica e línguas guardassem as mesmas simetrias em relação às famílias latina e germânica que estas guardam entre si. Evidentemente, esse exercício lúdico de criação não teria nenhum propósito prático a não ser o de provar a existência de uma fabulosa especularidade entre os países latinos e os germânicos. (Leia a esse respeito o artigo Supersimetria e criação de línguas).

A Civilização Ocidental, atualmente também chamada de Civilização Global, surgiu na Europa Ocidental por volta do século V d.C. e é o resultado da miscigenação de várias culturas que a precederam historicamente: a dos gregos, com sua visão de mundo racionalista e centrada no homem; a dos romanos, que unificaram a Europa sob um único império e sob o domínio da língua latina; a do cristianismo, que, nascido no Oriente Próximo a partir do judaísmo, tornou-se fundamentalmente a religião dos romanos; e a dos germanos, que invadiram e destruíram a unidade política de Roma, mas, tendo ao mesmo tempo adotado sua cultura e sua religião, influenciaram profundamente essa nova Europa que então nascia. Na verdade, a Civilização Ocidental se inicia no momento em que Roma — que até então era em parte herdeira da tradição grega e em parte o centro da nova ideologia judaico-cristã — passa a ter um contato mais intenso com os germanos, os chamados bárbaros, contato esse inicialmente pacífico, posteriormente belicoso. Aliás, a influência germânica e a judaico-cristã se dão no Império Romano quase simultaneamente, a partir do século I de nossa era. É justamente com a queda do Império que a cultura germânica e a ideologia religiosa cristã vão triunfar sobre os escombros da cultura greco-latina.

Mas os povos que efetivamente edificaram essa nova civilização foram os romanos — as influências grega e judaica estavam presentes de forma indireta, mas não esses povos — e os germanos. A civilização europeia que iria, a partir do século XV e das grandes navegações, colonizar o resto do planeta, foi fundamentalmente constituída por esses dois povos.

Mas o que chama a atenção por seu caráter inusitado e constitui, por sinal, o tema deste portal é o fato de que esses dois povos se organizaram no espaço territorial da Europa Ocidental de maneira tão simétrica que quase tudo o que diz respeito a eles — sua distribuição geográfica, sua história, sua língua, suas tradições culturais e mesmo alguns outros aspectos mais cotidianos de sua vida — constituiu paralelismos de tal ordem que é como se cada um desses conjuntos de povos (já que tanto os romanos quanto os germanos se dividiram com o fim do Império Romano em várias etnias) fosse a imagem especular um do outro. Por que esses dois grupos populacionais seguiram e seguem trajetórias tão paralelas, a ponto de, como veremos, em alguns casos a simetria entre eles apresentar uma precisão matematicamente assustadora, e por que esse parece ser um caso único na história da humanidade em que se verifica tal fenômeno é o assunto que pretendo abordar neste portal. É verdade que em outros lugares do planeta outras civilizações se desenvolveram apoiadas na contribuição de vários povos. Mas em nenhum outro lugar esses povos se organizaram de maneira tão análoga a ponto de um parecer a imagem espelhada do outro. Por exemplo, a Europa Oriental é fruto do cruzamento do cristianismo ortodoxo grego com a cultura eslava; o islã se apoia nos povos árabe, iraniano, turco e algumas outras etnias do Cáucaso que adotaram a religião de Maomé; a civilização chinesa espalhou-se pelo Japão, Coreia e Sudeste asiático; a civilização hindu englobou povos vizinhos à Índia como os nepaleses, birmaneses e alguns outros habitantes do Sudeste asiático. Mas em nenhum desses casos a participação de cada um dos povos envolvidos se deu em intensidade tão equilibrada quanto na Europa Ocidental. Em nenhum desses casos houve tantas coincidências em termos de fatos históricos, datas, pessoas, lugares, fenômenos linguísticos e assim por diante. Tais “coincidências”, na verdade, são tão numerosas e obedecem a uma lógica tão precisa que não podem ser atribuídas ao mero acaso, pois isso seria estatisticamente impossível. Por isso, prefiro tratá-las como exemplos de sincronicidade, isto é, de fenômenos interligados entre si num nível sutil, não detectável fisicamente, mas ainda assim fenômenos que possuem uma causa comum e, portanto, não são fortuitos. O primeiro estudioso a tratar da sincronicidade e de sua influência em nossa vida foi o psicanalista suíço Carl Gustav Jung, discípulo de Freud. É a sua teoria que tem servido de base às minhas pesquisas, porém, no caso presente, trata-se de algo muito mais grandioso do que a simples coocorrência de eventos cotidianos, como duas pessoas que desejam se encontrar e acabam indo “casualmente” ao mesmo lugar. No caso da história, geografia, língua e cultura dos povos europeus, a sincronicidade não é eventual, mas sistemática, e não envolve pessoas isoladas, mas povos inteiros, ou seja, milhões de pessoas ao longo de dois milênios.

E o mais importante é que essa civilização, inicialmente restrita à porção ocidental do continente europeu, espalhou-se pela América, Ásia, África e Oceania, de modo que tais simetrias hoje envolvem, de certa maneira, todo o planeta. Por essa razão, estudar tal fenômeno não significa apenas analisar um fato curioso e intrigante, mas analisar um fato que diz respeito em maior ou menor grau a todos nós, seres humanos.

Diante de toda essa intrincada arquitetura de coincidências e similitudes, poderíamos nos perguntar: será tudo isso fruto de mero acaso e da ação cega de leis determinísticas? Será que qualquer outro povo indo-europeu que tivesse ocupado o espaço geográfico onde atualmente estão os germânicos também teria desenvolvido analogias históricas, linguísticas e culturais com os povos românicos, embora evidentemente não as mesmas que hoje se verificam? Essa é uma questão difícil de responder, pois não temos como saber o que teria ocorrido se as condições iniciais desse sistema chamado Civilização Ocidental fossem outras. Basta que mudemos um único lance de uma partida de xadrez para mudarmos todo o curso posterior do jogo. E como para cada lance da partida existe um número assustadoramente grande de lances seguintes possíveis, a quantidade de partidas diferentes que se pode produzir a partir dessas combinações matemáticas tende ao infinito. Assim, a trajetória que a humanidade traçou, bem como a história de cada uma de suas civilizações, culturas e mesmo indivíduos é o resultado de uma série de acasos que se sucedem e vão determinando os lances seguintes. Como dizem os físicos quânticos, um evento real é apenas o colapso fortuito de uma dentre uma infinidade de possibilidades que jamais se realizarão. Mas, como o que nos interessa é a história real, pouco importa o que teria acontecido se Napoleão tivesse vencido a guerra: ele não venceu, e é tudo o que temos. A beleza do mundo está no que existe, muito mais do que naquilo que poderia existir mas jamais saberemos. Os mundos potenciais, alternativos ao mundo real, são o território da imaginação e da criatividade, mas estas também dependem da realidade para existir.

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